quinta-feira, 16 de outubro de 2008

No Fundo Aberto



Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge 
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso 
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha. 
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho, 
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores. 
Estamos na aurícula do coração do mundo. 
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra. 
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar 
e é a felicidade da língua vegetal 
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente. 
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue 
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante 
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios. 


António Ramos Rosa

1 comentário:

j. disse...

António Ramos Rosa é um senhor! :)