sábado, 25 de outubro de 2008



Caíram-me todas as estrelas dos olhos quando finalmente vi o que já não sou.
Mas porquê deixar de ser por quem nunca me soube a cores?

Há mundos em que o preto e branco não tem luz.
 (mesmo que secretos)





"There is so much more in love than black and white..."

segunda-feira, 20 de outubro de 2008



Das dores que se me apagam nos olhos
trago-te o beijo com veneno

o teu veneno

E em Vénus murcham as flores
que um dia cantaste nos meus lábios

...ou dizias que cantarias

já não sei se eras tu que
me alimentavas a chama de sabores
ou se era eu que os pintava nos sonhos

sei que aos meus olhos eras meu,
que nos meus olhos és meu.

não são os mesmos os odores
que criávamos em dueto,
as promessas que já duvido 
se alguma vez existiram

mas todas as noites te sussurro
em segredo
antes de adormecer,
na quase inconsciência abandonada
que te quero

...te quiero.

e as palavras que me nascem dos dedos
desde que te soube
têm os teus traços.


Seraphine.

domingo, 19 de outubro de 2008



sorri para mim
como a luz 
da lua
prateada

num nenúfar encantado


Seraphine.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

No Fundo Aberto



Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge 
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso 
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha. 
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho, 
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores. 
Estamos na aurícula do coração do mundo. 
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra. 
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar 
e é a felicidade da língua vegetal 
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente. 
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue 
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante 
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios. 


António Ramos Rosa

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sonho

Em resposta ao comentário no "Noite-dia"...

Sonho


Voz quente. 
Oiço-te numa aparição absurda
dentro de sonhos débeis.
Viajo no vapor de uma lenda
e restauro-me
no meu sono cristalizado.

Não me acordes.

Morri,
vezes sem conta,
na cumplicidade de um olhar.
Renasci
nas mãos frágeis de um amor conhecido,
num sorriso
disperso em mil bocas.

Sonho... sonho e volto a sonhar,
nesta noite tranquila e eterna.
Sou semente e sou fruto,
sou o sangue transparente
que corre nas asas de um anjo.

Não me peças para abrir os olhos.

Procura-me, sonha comigo.
Sê sol, que eu sou lua.

E só assim o sonho perdura.


Seraphine

domingo, 12 de outubro de 2008


...e num tremer de luas tento afastar-te de mim, da fotografia a preto e branco que deixaste abandonada no meu coração.

sábado, 11 de outubro de 2008

O Sonhador




Agora,
ele já não sonha,
as pálpebras estremecem, 
é noite outra vez,
o coração fecha todos os portos, todas as
portas,
e, no reverso de cada página,
somam-se cicatrizes, escombros,
muitos navios sem leme, sem âncora,
naufragados,
sem os espelhos que um dia, nos mares
entre o norte e o sul,
o viram contemplar, na inquietação das
vagas,
um rosto aflito que já nada dizia.


José Agostinho Baptista

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Noite-dia



As luzes negras florescem
do barro
abandonado no jardim

as folhas secas, cor
violino
música fúnebre que
se desgasta

num poema cantado
pelos pássaros.

Vagueiam sombras de
memórias, amores
perdidos nas águas
de uma fonte já seca.

Os elementos que se quebram
nos olhos cegos do passado.

Uma criança que cai na terra,
o grito agudo que se perde na voz.

O vento
que abafa o som das lágrimas.

Acorda: és Outono que morre, 
Inverno que seduz
as gotas de orvalho adormecidas
na árvore.

A criança levanta-se. Está tudo bem.

A chuva limpa
os vestígios de lama
(ou serão de dor?)

e um sorriso que renasce de uma
inocência que não conhece a face
mais fria do tempo.


O grito agudo que se perde na voz.


Seraphine.